

LLC
Cresci com valores cristãos de amor, compaixão e justiça, mas me afastei das práticas institucionais que misturavam fé e busca de poder (IGREJA/POLÍTICA). Mesmo sem frequentar ritos ou instituições regularmente, preservo o ensinamento de Jesus sobre reconciliação e recusa à violência como a base ética que orienta minha visão de mundo. Neste texto, convido você a refletir por que, à luz do Evangelho, o cristão não pode apoiar guerras injustas nem aplaudir retóricas belicistas de líderes políticos.
Vamos examinar passagens bíblicas centrais, contrapontos históricos com Santo Agostinho e Tomás de Aquino, diálogo respeitoso com a tradição judaica sobre guerra e paz, e, por fim, um chamado prático: constranger moralmente quem defende violência contra inocentes e apontar caminhos de confiança em Deus antes de recorrer a armas.
Esse trecho do Sermão do Monte é frequentemente chamado de manifesto do Reino de Deus, pois contrasta com a lógica de vingança (olho por olho) e propõe reconciliação ativa.
Responder ao mal com bem mostra o caráter de Deus e distingue o discípulo que imita Jesus.
Jesus sabia que poderia invocar auxílio divino (legião de anjos), mas recusou-se a usar violência, aceitando o caminho da cruz conforme as Escrituras.
Sua missão não se confunde com estratégias de poder militar, mas com a proclamação de uma verdade que vive pela compaixão e sacrifício.
A comunidade cristã nascente viveu esse ethos de recusa à retaliação e prática de amor mesmo em face de perseguição.
Esses ensinamentos formam o núcleo do padrão evangélico: não se trata de ingenuidade sem ação, mas de confiança criativa em Deus e busca de meios alternativos para lidar com o mal. Jesus não recomenda passividade estéril: ele trabalha ativamente pela cura do servo ferido (cura a orelha de quem o atacou), apoia reconciliação e prioriza a vida inocente.
Para você, leitor cristão, apoiar ou aplaudir ações que atingem civis indefesos (bombardeios, invasões desproporcionais etc.) contradiz esse padrão.
A pergunta que fica é: “Como invocar Deus para justificar violência contra inocentes se o próprio Jesus ensinou a amar inimigos e a oferecer a outra face?”
Nos séculos iniciais do cristianismo, diante de invasões e colapsos políticos, Agostinho formulou critérios de “guerra justa” para legitimar, em certos casos, o uso da força (quando o mal do agressor ameaçava vidas inocentes). Ele buscava refutar o pacifismo absoluto e permitir defesa sob intenções corretas e limites estritos.
Embora relevante no contexto do Império romano, essa teoria parte de uma situação em que a comunidade cristã já estava inserida em estruturas estatais. Ainda assim, é uma interpretação posterior ao ensino de Jesus, que jamais recomendou recorrer a armas.
Por isso, ao confrontar a proposta de Agostinho com o padrão de Jesus, percebe-se a tensão: Agostinho admite força como último recurso, mas Jesus orienta buscar sempre meios que preservem o inocente e confiem em Deus antes de pegar em armas.
Na Idade Média, Tomás de Aquino organizou a doutrina da guerra justa em Summa Theologica, definindo três requisitos principais: autoridade legítima, causa justa e intenção reta, além de cuidado com proporcionalidade e princípio do duplo efeito (aceitar danos colaterais inevitáveis).
Para Aquinas, defender o Estado e proteger inocentes podia justificar guerra. Isso refletia a realidade política medieval, mas, na era contemporânea de armamentos de longo alcance, tal teoria frequentemente falha em preservar vidas inocentes.
Ainda que seja um desenvolvimento respeitável da tradição cristã, a autoridade final do cristão permanece no ensino de Jesus: o ideal de reconciliação e amor radical ao inimigo desafia a confiança exclusiva em armas, mesmo em “legítima defesa”, pois a tecnologia e a escala de destruição tornam cada vez mais difícil cumprir critérios estritos de proporcionalidade e último recurso.
No judaísmo, Jesus não é reconhecido como Messias, mas como profeta ou mestre moral; por isso, a autoridade cristológica não se aplica a judeus. Ainda assim, a ética judaica sobre guerra (por exemplo, em Deuteronômio 20 e discussões rabínicas) enfatiza Shalom, busca de paz antes de conflito e restrições rigorosas para minimizar danos a civis.
Textos rabínicos e reflexões contemporâneas destacam que a guerra só se justifica em legítima defesa comunitária, com proporcionalidade e prioridade a soluções pacíficas. Mesmo sem crer em Jesus, a tradição judaica converge na valoração da vida inocente.
Para você, cristão, que aceita Jesus como Filho de Deus e modelo supremo, isso reforça ainda mais a obrigação de recusar apoio a guerras desproporcionais. O diálogo inter-religioso deve ser guiado pelo respeito: reconhecer convergências éticas fortalece nossa convicção de buscar paz e amparar vulneráveis, ainda que as motivações teológicas sejam distintas.
Convido você a refletir: muitas vezes, cristãos invocam Deus para respaldar retórica belicista ou aplaudem ataques que vitimam inocentes. Essa postura gera uma dissonância ética grave: como justificar, diante de Mateus 5:44 (“amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”) ou Romanos 12:21 (“vença o mal com o bem”), o apoio ou celebração de bombardeios que atingem crianças e civis indefesos? É uma leitura seletiva do Evangelho, usada politicamente para legitimar violência. Sem hostilidade pessoal, é legítimo provocar: “Você que se diz cristão, examinou se sua posição coaduna-se com o Evangelho ou decorre de interpretações que relativizam a não-violência de Jesus?”
Esse desconforto moral não visa humilhar, mas despertar arrependimento e realinhamento a meios de compaixão – afinal, Hebreus 12 lembra que a disciplina de Deus produz “fruto pacífico de justiça” e Apocalipse 3 afirma que a repreensão vem por amor e chama ao arrependimento.
Reconheço que, em situações extremas, há necessidade de proteger vidas inocentes. A tradição cristã pós-bíblica (Agostinho e Aquinas) admite legítima defesa sob condições estritas: autoridade legítima, justa causa, intenção reta, proporcionalidade e último recurso.
Mas o ideal de Jesus nos convida a priorizar antes a oração, a diplomacia, a ajuda humanitária, a mobilização pacífica, confiando em Deus como proteção última.
Na era de armas de longo alcance e destruição em massa, essas condições são difíceis de cumprir sem atingir civis. Logo, o cristão deve investir pesadamente em prevenção de conflitos, diálogo, pressões pacíficas por cessar-fogo, apoio a vítimas e iniciativas de reconciliação, deixando o uso de força como última alternativa, se inevitável, sempre com consciência crítica de quão distante isso fica do padrão de Jesus.
Em vez de depositar confiança em arsenais, depositemos confiança em Deus e em práticas que preservem o inocente.
Jesus é a “palavra final”: recusou a violência mesmo tendo meios extraordinários, ensinou a amar inimigos e ofereceu a outra face. Embora Santo Agostinho e Tomás de Aquino tenham refletido em contextos históricos sobre legítima defesa e guerra justa, tais teorias não podem sobrepor o exemplo e ensino radical de Cristo.
O diálogo com o judaísmo, que também valoriza restrição de guerra e busca de paz, reforça nossa convicção: cristão que ama Jesus deve priorizar iniciativas de reconciliação, oração pelos adversários e apoio a vítimas antes de recorrer a armas.
Se você já invocou Deus para justificar violência contra inocentes, repense diante de Mateus 5 e João 18:36-37; permita que o desconforto moral o leve a ações concretas: orar por inimigos, apoiar campanhas humanitárias, engajar-se em diálogos inter-religiosos e advocacia por cessar-fogo.
Assim, você testemunha o Reino de Deus na prática de paz e compaixão, honra o modelo de Cristo e confia em Deus acima de qualquer poder temporal.
2 Comments
Importante reflexão!
Importante reflexão! Deus seja louvado por sua vida!