Você que é um assíduo debatedor, que gosta de desenvolver argumentos e, frequentemente, tem que refutar argumentos divergentes aos seus, abro nesta semana as técnicas que os patifes se utilizam para tirar sua atenção e da plateia, com a finalidade de não entrar no conteúdo do debate proposto.
A ideia é que o leitor deste blog esteja preparado às artimanhas, ardis, estratagemas, jogo sujo, dos seus oponentes, daqueles que debatem mas não seguem o jogo da boa-fé intelectual preferindo a dialética erística, apenas para descontrolar o debatedor, sem nenhum interesse na busca da melhor hipótese, verdade, tese.
A ideia é tratarmos, primeiramente, dos estratagemas, depois vamos para o livro de Aristóteles, A Retórica.
Para quem é advogado ou político, o blog tende a contribuir muito com aqueles que pretendem extirpar essa forma de debate, que não visa a busca da verdade mas tão somente ridicularizar o debatedor.
Assim, sem delongas, vamos para o primeiro estratagema que os patifes utilizam contra os seus discursos:
1 – Ampliação indevida
Ampliação. Levar a afirmação do adversário para além de seus limites naturais, interpretá-la do modo mais geral possível, tomá-la no sentido mais amplo possível e exagerá-la. Restringir, em contrapartida, a própria afirmação ao sentido mais estrito de ao limite mais estreito possível. Pois quando mais geral uma afirmação se torna, tanto mais ataques se podem dirigir a ela. O antídoto é a exposição dos puncti (os pontos que se debatem ou status controversiae, a maneira de apresentar a controvérsia).
Exemplo 1. Eu disse: “Os ingleses são a primeira nação do gênero dramático.” O adversário quis tentar uma instância e rebateu: “Todo mundo sabe que na música e, por conseguinte, na ópera, eles nunca foram importantes.” Repliquei recordando que “a música não está compreendida no gênero dramático; este corresponde unicamente à tragédia e à comédia”; coisa que ele sabia perfeitamente, pretendendo generalizar minha afirmação de modo que compreendesse todas as representações teatrais e, portanto, a ópera e a música, para assim abater-me com segurança.”
Em analogia ao caso acima, apresento um fato que gerou desconfortou para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando ele chamou aqueles que se aposentaram no Brasil antes dos 50, de vagabundos.
Vejamos o que foi dito:
“Fiz a reforma da Previdência para que aqueles que se locupletam da Previdência não se locupletem mais, não se aposentem com menos de 50 anos, não sejam vagabundos em um país de pobres e miseráveis”, disse FHC.
Ora, essa fala, fez com que a imprensa, sindicatos entre outras entidades lançassem argumentos de forma generalizada, fazendo com que se explicasse o óbvio:
Segundo FHC, é “evidente” que essas pessoas têm direito a uma justa aposentadoria. “Não são esses trabalhadores e aposentados que eu critico. O que eu critico, e vou continuar criticando sempre, são os privilégios. Pessoas que trabalham 20, 25 anos e se aposentam ainda jovens e com salários altos”, afirmou.
Como se nota, a linguagem em um país com grande número de analfabeto, sem contar ainda com o analfabeto funcional que é incapaz de compreender textos simples, tende a ser praticamente desenhada, como no Filme/Documentário, Idiocracy (O filme conta a história de duas pessoas que participam de um experimento científico militar de hibernação que dá errado, e eles despertam 500 anos no futuro, em 2505. Descobrem então, que o mundo agora vive numa sociedade distópica em que a publicidade, o marketing, o consumismo, o mercantilismo, e anti-intelectualismo cultural funcionam desenfreadamente e que a pressão disgênica resultou numa sociedade humana uniformemente estúpida, insensível ao meio ambiente, desprovida de curiosidade intelectual, responsabilidade social, e noções coerentes de justiça e direitos humanos), visto que uma sociedade de ignorantes é explorada pela mídia e por políticos, ficando sua minoria sufocada por ardis daqueles que se aproveitam dessa ignorância.
Essa forma de explicar o óbvio se tornou tão comum, diante da generalização aplicada, com má-fé para enganar o leitor, a plateia, pois esta é fácil de se manipular e, para isso, o patife vai se utilizar de todas as manobras para te colocar no constrangimento do desenvolvimento intelectual de seu debate.
Nesse sentido, peço ao caro leitor muita atenção na proposta deste blog, para que não se utilize desses estratagemas com o viés de apenas provocar a irá do debatedor, sem que haja interesse no conteúdo.
Segundo Sócrates, o desdém, a pilhéria no discurso devem vir com sutilizas, mas só quando o debatedor busca deturpar suas ideias, com o objetivo de convencer a plateia que o argumento não procede, sem que apresente dados para tal afirmação.
Assim, vale apena treinar, ler as matérias da mídia, participar dos debates em grupos de WhatsApp, que, certamente, você estará preparado para colocar no lugar o patife que busca te levar para a ira e não para o conteúdo do seu debate.
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3 Comments
Excelente livro, pbs pela série.
Interessantíssimo
muito bom!