Ex-secretário-geral Mozart Vianna de Paiva, falecido no dia 07/06, deixa um legado que todos deveriam se espelhar

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Ex-secretário-geral Mozart Vianna de Paiva, falecido no dia 07/06, deixa um legado que todos deveriam se espelhar

Mozart Vianna foi secretário-geral da Mesa por cerca 22 anos

Por Leonardo Loiola Cavalcanti

 

Nesses durantes 27 anos trabalhando no processo legislativo da Câmara dos Deputados, nunca vi um funcionário tão exemplar, tão humilde como o dr. Mozart.

Tive diversos contatos com ele para tratar sobre proposições de interesse dos deputados, e sempre fui atendido de igual para igual; com respeito, com dignidade, com respeito ao meu trabalho. Nunca ouvi de nenhum funcionário da Câmara, nesses 27 anos, nenhuma palavra negativa sobre o dr. Mozart.

Depois de diversos contatos nos tornamos amigos, a ponto dele me orientar no meu trabalho de conclusão de curso de direito,  quando enviei um questionário para todas as autoridades, com o seguinte texto:

 

“Carta nº. 10/2010 – TCC/Ciências Jurídicas

Brasília(DF), 08 de abril de 2010

A Sua Excelência o Senhor

DR. MOZART VIANNA

Secretário-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados

Brasília – DF – CEP: 70160-900

 

Assunto: Trabalho de Conclusão de Curso – TCC – Ciências Jurídicas

 

Senhor Secretário-Geral da Mesa,

 

Sou aluno do curso de Ciências Jurídicas do 9º semestre, do Instituto de Ensino Superior de Brasília – IESB, e estou desenvolvendo um Artigo para a conclusão de curso.

Vou tratar sobre Proposta de Emenda à Constituição, em especial sobre a faculdade do relator de apresentar emenda à PEC, sem o apoio de 1/3 dos membros da Câmara dos Deputados. O Tema tem a seguinte pergunta: “É nula a emenda de relator que inserir novo texto à PEC sem o apoiamento de 1/3 dos membros da Câmara dos Deputados?“

No entanto, não há nenhum doutrinador tratando sobre a questão. A única fonte que tenho como estudo são os debates regimentais, ocorridos desde 1995 até a presente data, e sobre as questões de ordens nºs. 5513 e 1028, da Câmara dos Deputados, respectivamente, dos deputados José Genoíno e Arnaldo Faria de Sá.

Assim, solicito a Vossa Excelência a possibilidade de emitir opinião sobre o tema, com objetivo de colher dados que possam contribuir para o desenvolvimento desse Artigo.

Anexo questionário.

Certo de poder contar com Vossa Senhoria, desde já agradeço.

Respeitosamente,

Leonardo Loiola Cavalcanti”

 

Ele discordava da minha tese jurídica, mas me orientou a seguir os estudos e foi meu “orientador paralelo”, fazendo o papel do “advogado do diabo”, ele aprovou o meu trabalho e ainda me orientou a lançar um livro.

Mozart Vianna sempre foi uma pessoa muito carismática, apesar do seu jeito calado, discreto, franzino, tinha uma alma imensurável, difícil de encontrar em qualquer funcionário público.

Assim, a Câmara dos Deputados aprovou na terça-feira (8) o Projeto de Resolução 46/21, da Mesa Diretora, que dá ao gabinete da Secretaria-Geral da Mesa o nome do ex-secretário-geral Mozart Vianna de Paiva.  O projeto foi promulgado em seguida como Resolução 22/21.

A sua generosidade não tinha limites, mas nunca deixava passar nada que pudesse colocar em xeque os trabalhos da presidência. Isto porque, o ex-deputado federal, José Genoíno, que era um “rato” de regimento interno, sempre dava trabalho, pois tinha uma interpretação regimental quase que impecável.

Em razão disso, Mozart, que ocupou o cargo de secretário-geral da Mesa Diretora por cerca de 22 anos (1991 até 2011 e 2013 a 2015), sempre se antecipava… Lia os jornais antes do clarear do dia, e via as estratégias do Genoíno, ao passo que se preparava para refutá-las. Ele tinha 70 anos e era mineiro, natural de Corinto. Começou a trabalhar na Câmara em 1975, onde ingressou por concurso público para o cargo de datilógrafo.

“Ex-seminarista e formado em Letras pela Universidade de Brasília (UnB), mais tarde a sua intimidade com o idioma seria reconhecida. Mozart foi convidado para assumir o cargo de secretário da Comissão de Redação da Câmara, responsável pelo texto final das propostas aprovadas pela Casa. Atualmente, esse colegiado se chama Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ).

Durante a Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), Mozart Vianna foi supervisor do Grupo de Apoio da Secretaria-Geral da Mesa (SGM), coordenando uma equipe de 150 funcionários, dividida em vários grupos de trabalho, que atuou em todas as fases, da preparação do Regimento Interno até a redação final do projeto de Constituição.

Em 1991, Mozart assumiu a Secretaria-Geral da Mesa, a convite do então presidente, Ibsen Pinheiro.

Mozart deixa a mulher, Áurea, e quatro filhos: Marcelo, Diego, Thiago e Danielle. A família não informou a causa da morte” Fonte: Câmara dos Deputados

 

Que o seu legado fique marcado por toda a eternidade, e que todos possam lhe espelhar e agir com generosidade, com humildade e com o espírito público, sem discriminação ou preconceito.

 

Descanse em Paz, meu nobre e eterno amigo!

 

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